Canção do Exílio
(...)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Antônio Gonçalves Dias, Primeiros Cantos)
Gonçalves Dias consolidou o romantismo no Brasil.
Sua “Canção do exílio” pode ser considerada tipicamente romântica porque
a) apoia-se nos cânones formais da poesia clássica
greco-romana; emprega figuras de ornamento, até
com certo exagero; evidencia a musicalidade do
verso pelo uso de aliterações.
b) exalta terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema
é tratado de modo sentimental, emotivo.
c) utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade criativa; sua linguagem é hermética, erudita; glorifica o
canto dos pássaros e a vida selvagem.
d) poesia e música se confundem, como artifício simbólico; a natureza e o tema bucólico são tratados com objetividade; usa com parcimônia as formas
pronominais de primeira pessoa.
e) refere-se à vida com descrença e tristeza; expõe o
tema na ordem sucessiva, cronológica; utiliza-se do
exílio como o meio adequado de referir-se à evasão
da realidade.
Embora se possa considerar que o adjetivo "sentimental", dependendo do sentido que se lhe atribua,
seja inadequado para qualificar o lirismo a um tempo
emotivo e "enxuto" da "Canção do Exílio", não há nenhuma outra alternativa que possa ser admitida. É preciso não confundir sentimentalidade com sentimentalismo. Este último é totalmente estranho à obra prima de Gonçalves Dias.
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