(UNIFESP) - QUESTÕES

Leia o texto para responder às questões de números 01 a 05.

O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano.
— Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana.
Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:
— Ah! meu primo Basílio? Mande entrar.
E chamando-a:
— Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.
Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo!
Subiu à cozinha, devagar, — lograda.
— Temos grande novidade, Sr.ª Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio.
E com um risinho:
— É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!
— Então que havia de o homem ser se não parente? – observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo.
— É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda!
Tudo fica na família!
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda.
Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava pronto?
Mas a campainha, embaixo, tocou.
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)


(01. QUESTÃO) - Quando é avisada de que Basílio estava em sua casa, Luísa escandaliza-se com a forma de expressão de sua criada Juliana. A reação de Luísa decorre 
a) da linguagem descuidada com que a criada se refere a seu primo Basílio, rapaz cortês e de família aristocrática. 
b) da intimidade que a criada revela ter com o Basílio, o que deixa a patroa enciumada com o comentário. 
c) do comentário malicioso que a criada faz à presença de Basílio, sugerindo à patroa que deveria envolver-se com o rapaz. 
d) da indiscrição da criada ao referir-se ao rapaz, o qual, apesar do vínculo familiar, não era visita frequente na casa da patroa. 
e) da ambiguidade que se pode entrever nas palavras da criada, referindo-se com ironia às frequentes visitas de Basílio à patroa.

(02. QUESTÃO) - Observe as passagens do texto: 
– Ora, adeus! Era o primo! 
– E o ferro estava pronto? 
Nessas passagens, é correto afirmar que se expressa o ponto de vista 
a) da personagem Juliana, em discurso direto, independente da voz do narrador. 
b) da personagem Juliana, sendo que sua voz mescla-se à voz do narrador. 
c) do narrador, em terceira pessoa, distanciado, portanto, do ponto de vista de Juliana. 
d) do narrador, em primeira pessoa, próximo, portanto, do ponto de vista de Juliana. 
e) da personagem Luísa, em discurso indireto, independente da voz do narrador.

(03. QUESTÃO) - Considere o antepenúltimo parágrafo do texto
— É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!

Nas reflexões de Juliana, está sugerido o que acaba por ser o tema gerador desse romance de Eça de Queirós, a saber: 
a) o amor impossível, em nome do qual Luísa abandona o marido. 
b) a vingança, em que Luísa vitima seu amante Basílio. 
c) o triângulo amoroso, em que Basílio ocupa o lugar de amante. 
d) o casamento por interesse, mediante a compra do amor de Basílio. 
e) o casamento por conveniência, no qual Luísa foi lograda.

(04. QUESTÃO) - Considere o antepenúltimo parágrafo do texto
— É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!

A leitura do parágrafo permite concluir que as reflexões de Juliana são pautadas 
a) pelo inconformismo com os encontros, que lhe representam mais afazeres. 
b) pela falta de interesse que tem de se ocupar dos afazeres domésticos. 
c) pelo ressentimento que experimenta, por não receber a atenção desejada. 
d) pela insatisfação de contemplar o bem-estar da família. 
e) pelo descaso que revela ter em relação a Luísa e aos seus familiares.

(05. QUESTÃO) - A leitura do trecho de O primo Basílio, em seu conjunto, permite concluir corretamente que essa obra 
a) expõe a sociedade portuguesa da época para recuperar a tradição e os vínculos sociais. 
b) traz as relações humanas de forma idealista, ainda que recupere a ideologia vigente. 
c) retrata a sociedade portuguesa da época de forma romântica e idealizada. 
d) faz explicitamente a defesa das instituições sociais, como a família. 
e) faz um retrato crítico da sociedade portuguesa da época, exibindo os seus costumes.




(01. QUESTÃO) - E
Luísa é esposa de Jorge, que está a trabalho no interior de Portugal. Quando a empregada Juliana anuncia a chegada de Basílio, qualificando-o como “o sujeito do costume”, mostra-se maldosamente ambígua, deixando a entender uma ponta de crítica pelo fato de uma mulher casada ter o hábito de receber, na ausência do marido, um outro homem em sua casa. Daí a reação de Luísa, que fica corada e escandalizada, fazendo questão de informar que se trata de seu primo.

(02. QUESTÃO) - B
As duas passagens são discurso de Juliana, a primeira expressando sua decepção ao descobrir que “o sujeito” era nada mais do que o primo de Luísa (a empregada esperava alguma novidade indecente e escandalosa) e a segunda apresentando a preocupação da serviçal com a tarefa doméstica que precisava realizar, a “carga de roupa para passar”. Trata-se, portanto, do ponto de vista da personagem que de maneira vívida e graciosa acaba-se misturando ao discurso do narrador, sem a tradicional separação por meio do verbo de dizer e da pontuação típica (aspas ou travessão).Trata-se, portanto, de discurso indireto livre.

(03. QUESTÃO) - C
O último discurso direto do trecho expõe as reflexões de Juliana sobre os fatos que observa e analisa com sagacidade: o contato de Luísa com Basílio, justamente quando Jorge não está presente, faz com que esta tenha um novo comportamento, passando a usar roupa nova, a passear, suspirar e exibir olheiras. Essas considerações sugerem o tema motivador de O Primo Basílio: o adultério de Luísa.

(04. QUESTÃO) - A
No parágrafo em questão, a empregada Juliana reclama de que a patroa passou a passear mais, a usar “roupa branca e mais roupa branca, e roupão novo”, o que significava um aumento da carga de tarefa doméstica – mais para lavar e engomar. 

(05. QUESTÃO) - E
O trecho apresenta o estilo de vida da empregada – insatisfeita e rancorosa, atolada em tarefas domésticas – em contraste com o da patroa – entregue ao ócio e à fruição dos prazeres. Configura-se aqui a representação metonímica de um contexto de oposição de classes. O excerto também expõe a iminência de um adultério (que por fim se realiza), que Eça de Queirós entendeu como fruto da defeituosa educação romântica à qual estaria submetida a mulher burguesa ibérica no século XIX. Assim, O Primo Basílio funciona como um romance que compõe um retrato crítico da sociedade lusitana da época.

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