As questões de números 01 a 03 baseiam-se no
texto de Mário de Andrade.
É por causa do meu engraxate que ando agora em plena desolação. Meu engraxate me deixou.
Passei duas vezes pela porta onde ele trabalhava e nada. Então
me inquietei, não sei que doenças mortíferas, que mudança pra
outras portas se passaram em mim, resolvi perguntar ao menino
que trabalhava na outra cadeira. O menino é um retalho de hungarês, cara de infeliz, não dá simpatia alguma. E tímido, o que
torna instintivamente a gente muito combinado com o universo
no propósito de desgraçar esses desgraçados de nascença. “Está
vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático, me deixando
numa perplexidade penosíssima: pronto! Estava sem engraxate!
Os olhos do menino chispeavam ávidos, porque sou um dos que
ficam fregueses e dão gorjeta. Levei seguramente um minuto pra
definir que tinha de continuar engraxando sapatos toda a vida
minha e ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar
engraxate bom. (Mário de Andrade, Os Filhos da Candinha.)
(01. QUESTÃO) - A desolação por que passa o narrador resulta
(A) do sumiço do engraxate, por quem o narrador, ao valer-se
dos serviços, criara certa afeição.
(B) da ausência do engraxate, de cujos serviços, mesmo
precários, aquele se valia.
(C) da presença do menino hungarês, pouco aberto ao diálogo, em substituição obrigatória ao antigo engraxate.
(D) do sumiço do engraxate com quem ele evitava a todo
custo criar laços afetivos.
(E) da necessidade dos serviços do tímido menino hungarês,
que certamente não chegaria a ser bom engraxate.
(02. QUESTÃO) - A timidez do engraxate despertava no narrador um sentimento de
(A) pena dele e daqueles que, como ele, também viviam mal.
(B) repulsa por ele e pelos de sua condição de malnascido.
(C) enternecimento por ele e pelos malnascidos, por sua
natural infelicidade.
(D) distanciamento dele e daqueles que o viam com interesse.
(E) indignação com ele e com aqueles que pouco faziam para
progredir.
(03. QUESTÃO) - É correto afirmar que
(A) o narrador ficou sem engraxate, mas queria encontrar o
menino para agradecer pelos bons serviços que recebera.
(B) o menino hungarês é antipático, pois se refere, com ironia,
ao outro que, um dia, já esteve trabalhando ao seu lado
como engraxate, prestando serviços ao narrador.
(C) a possibilidade de ficar definitivamente sem seu engraxate, que poderia lograr êxito no novo emprego, perturbava
demais o narrador.
(D) o espírito generoso do narrador com o engraxate, ficando
freguês e dando gorjetas, não foi suficiente para evitar
ser maltratado pelo menino.
(E) a forma dissimulada como o menino hungarês trata o
narrador naquele momento difícil mostra-o como se
estivesse se divertindo com a situação.
(01. QUESTÃO) - A
O desaparecimento do engraxate desola e inquieta o
narrador, como se evidencia claramente no início do
texto. (Note-se que a alternativa de resposta não está
redigida com precisão, pois o termo "serviços" demandaria o adjunto "dele" para não ficar indeterminado,
como que "solto" na frase. É verdade que o contexto não
dá ensejo a confusão, mas uma mínima exigência de
elegância e atenção ao espírito da língua aconselharia
uma redação menos relaxada.)
(02. QUESTÃO) - B
A antipatia que a timidez do menino desperta no narrador é tão intensa que o leva a sentir-se solidário do
estado de coisas ("universo") que determina a "desgraça" do engraxate e de pessoas a ele semelhantes.
(03. QUESTÃO) - C
O narrador não poderá mais contar com os serviços de
seu antigo engraxate, pois, segundo o menino, o engraxate deixou esse trabalho e tornou-se vendedor de bilhetes de loteria. Isso deixa o narrador abalado.
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