Leia o conto de Carlos Drummond de Andrade para
responder às questões de 01 a 03.
O entendimento dos contos
— Agora você vai me contar uma história de amor —
disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de
amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e
satélites artificiais.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de
concluir o mestrado de contador de histórias, e estava
com a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um
país onde só havia água, eram águas e mais águas, e o
governo como tudo mais se fazia em embarcações
atracadas ou em movimento, conforme o tempo.
Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas
não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus sonhos, se
recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo
navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria uma
frota de dez caravelas, para si e para seus familiares.
Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de
embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou
um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando
os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas
não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou
em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo
das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas,
topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina.
Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou
o rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformarme em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda
não tinham sido inventados. Continuou humilde satélite
de Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha
para outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a
inscrição “Amor imortal”. Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço,
insatisfeito.
— Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos
devem ser contados, e não entendidos; exatamente como
a vida.
(Contos plausíveis, 2012.)
01. QUESTÃO - No texto, a moça
a) finge não entender o próprio conto para perturbar o
rapaz.
b) sugere que a vida, como a maioria dos contos,
dificilmente termina bem.
c) sugere que dificilmente o sentido da vida possa caber
em um conto.
d) acredita que a vida precisa ser decifrada, como a
maioria dos contos.
e) acredita que os contos, como a vida, prescindem de
explicação.
02. QUESTÃO - Em sua história, a moça incorre em contradição ao tratar
a) das caravelas.
b) da recusa de Sertória em se casar.
c) da tentativa de suicídio de Osmundo.
d) dos satélites artificiais.
e) das pedras preciosas.
03. QUESTÃO - O título do conto antecipa seu caráter
a) melancólico.
b) fantástico.
c) ambíguo.
d) satírico.
e) metalinguístico.
01. QUESTÃO - E
No texto “O entendimento dos contos”, há dois planos
narrativos: um, da moça que conta uma história ao
rapaz, e o outro, da história contada, em que figuram
Osmundo e Sertória, personagens do conto. “A moça
do primeiro plano”, mestre em contar histórias, ao
terminar sua narração, explica que “os contos devem
ser contados, e não entendidos; exatamente como a
vida.” Dessa forma, na visão da moça, os contos
devem prescindir de explicação.
02. QUESTÃO - D
No conto, a narradora identificada apenas como “a
moça” conta ao seu interlocutor, “o moço”, uma
história sobre como Osmundo tentou agradar sem
sucesso Sertória, com quem desejava casar-se. Após
várias tentativas malsucedidas, ele decide
transformar-se em “satélite artificial”. No entanto, a
narradora afirma que estes “ainda não haviam sido
inventados”.
03. QUESTÃO - E
A metalinguagem é a linguagem que descreve sobre
ela mesma. Ou seja, ela utiliza o próprio código para
explicá-lo. Assim, o título “O entendimento dos
contos” antecipa tal caráter, já que ele contém
menção ao gênero do texto de Drummond (o conto).
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