Para responder às questões de 1 a 3, leia o trecho do
livro A solidão dos moribundos, do sociólogo alemão
Norbert Elias.
Não mais consideramos um entretenimento de domingo
assistir a enforcamentos, esquartejamentos e suplícios na
roda. Assistimos ao futebol, e não aos gladiadores na arena.
Se comparados aos da Antiguidade, nossa identificação
com outras pessoas e nosso compartilhamento de seus
sofrimentos e morte aumentaram. Assistir a tigres e leões
famintos devorando pessoas vivas pedaço a pedaço, ou a
gladiadores, por astúcia e engano, mutuamente se ferindo
e matando, dificilmente constituiria uma diversão para a
qual nos prepararíamos com o mesmo prazer que os
senadores ou o povo romano. Tudo indica que nenhum
sentimento de identidade unia esses espectadores àqueles
que, na arena, lutavam por suas vidas. Como sabemos, os
gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as
palavras “Morituri te salutant” (Os que vão morrer te
saúdam). Alguns dos imperadores sem dúvida se
acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais
apropriado se os gladiadores dissessem “Morituri
moriturum salutant” (Os que vão morrer saúdam aquele
que vai morrer). Porém, numa sociedade em que tivesse
sido possível dizer isso, provavelmente não haveria
gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer
isso aos dominadores — alguns dos quais mesmo hoje têm
poder de vida e morte sobre um sem-número de seus
semelhantes — requer uma desmitologização da morte
mais ampla do que a que temos hoje, e uma consciência
muito mais clara de que a espécie humana é uma
comunidade de mortais e de que as pessoas necessitadas
só podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema
social da morte é especialmente difícil de resolver porque
os vivos acham difícil identificar-se com os moribundos.
A morte é um problema dos vivos. Os mortos não têm
problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na Terra,
a morte constitui um problema só para os seres humanos.
Embora compartilhem o nascimento, a doença, a
juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os
animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que
morrerão; apenas eles podem prever seu próprio fim,
estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e
tomando precauções especiais — como indivíduos e como
grupos — para proteger-se contra a ameaça da aniquilação.
(A solidão dos moribundos, 2001.)
01. QUESTÃO - De acordo com o autor,
a) a antecipação da própria morte tornou-se fonte de
problemas para os seres humanos.
b) o reconhecimento da própria finitude conduziria o ser
humano a uma existência verdadeira.
c) os seres humanos acabaram por se afastar da ideia da
inevitabilidade da morte.
d) a morte tornou-se, em razão do processo de
aniquilação da natureza, um problema para a
humanidade.
e) os animais, a exemplo dos seres humanos, também
seriam confrontados com a experiência da própria
finitude.
02. QUESTÃO - No primeiro parágrafo, a impessoalidade da linguagem
está bem exemplificada no trecho:
a) “Se comparados aos da Antiguidade, nossa
identificação com outras pessoas e nosso
compartilhamento de seus sofrimentos e morte
aumentaram.”
b) “Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador
ao entrar com as palavras ‘Morituri te salutant’ (Os
que vão morrer te saúdam).”
c) “Assistimos ao futebol, e não aos gladiadores na
arena.”
d) “Tudo indica que nenhum sentimento de identidade
unia esses espectadores àqueles que, na arena, lutavam
por suas vidas.”
e) “Não mais consideramos um entretenimento de
domingo assistir a enforcamentos, esquartejamentos e
suplícios na roda.”
03. QUESTÃO - Em “Embora compartilhem o nascimento, a doença, a
juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os
animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que
morrerão” (2º parágrafo), o termo sublinhado pode ser
substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:
a) A menos que.
b) Mesmo que.
c) Desde que.
d) Uma vez que.
e) Contanto que.
01. QUESTÃO - A
No segundo parágrafo do texto em análise, Norbert
Elias afirma que “a morte constitui um problema só
para os seres humanos”. Tal angústia, ainda de acordo
com esse parágrafo, decorre do fato de a espécie
humana ser a única que tem consciência de sua
finitude, o que a faz ter “antecipação da própria
morte”. Deve-se entender, na lógica exposta pelo
sociólogo alemão, “antecipação” como resultante
desse conhecimento, que nos faz prever, isto é, ter
ciência do que está por acontecer: o nosso
perecimento.
02. QUESTÃO - D
Apenas na alternativa d o autor emprega a terceira
pessoa do singular, como recurso que demonstra
impessoalidade. Já nas demais utiliza a primeira
pessoa do plural.
03. QUESTÃO - B
A conjunção “embora” é concessiva, pois uma
introduz uma oração que indica ressalva em relação à
oração posterior. Assim, é equivalente à locução
conjuntiva “mesmo que”.
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