(ESA/CFS 2015-16) - QUESTÕES

Calor do cão, dias de cão
Fernando Martins
  1. Às noites abafadas e mal dormidas seguem manhãs secas e tardes tórridas. Sem trégua para o corpo, quem não rogou por chuva ou sombra nesta estação atipicamente escaldante? E quem, sem encontrar o frescor que procura, não praguejou: “Calor do cão!”? Mas o verão de 2013/2014 não será marcado tão-somente pelos recordes de temperatura. O ar está mais do que quente. Está carregado de uma perigosa escalada de corrosão do tecido social: briga de torcidas em Joinville; rebelião e assassinatos em presídio do Maranhão; criação de grupos de justiceiros no Rio; incêndios em série de ônibus em São Paulo; a ação dos black blocs e a morte do repórter cinematográfico Santiago Andrade. Os tempos que correm são dias de cão.
  2. Calor do cão e dias de cão. Não é coincidência que as duas expressões se encontrem nesta época de temperaturas inclementes. Elas foram forjadas juntas há mais de dois milênios, sob o sol mediterrâneo. Os gregos antigos perceberam haver uma relação entre o calor escaldante e o humor humano. Erraram na causa. Mas criaram um vigoroso simbolismo.
  3. Para eles, a explicação estava nos céus e não na natureza do homem. O cachorro em questão era a constelação do Cão Maior e sua principal estrela, Sírius, a mais brilhante do firmamento (próxima às Três Marias). Os gregos notaram que Sírius, também conhecida como Estrela Cão, sumia por cerca de 70 dias. E, pouco antes do verão, voltava a aparecer no leste já na alta madrugada.
  4. A conclusão a que aqueles homens chegaram foi de causa e efeito: a estrela com maior fulgor se aproximava do sol nascente e o esquentava. Sírius provocava, então, a estação cálida, o calor do cão. Os gregos acreditavam ainda que aquele período era marcado pela influência maligna do astro celeste: fraqueza de ânimo, tentações da carne e pestilências. Eram os dias de cão.
  5. O Ocidente herdou as duas expressões e as manteve vivas de geração após geração. Elas, afinal, continuam a dizer muito. O homem é essencialmente o mesmo desde sempre. Sofre os efeitos da natureza, a despeito da civilização que construiu. E o abafamento do clima continua a ser um potencial catalisador de comportamentos extremados, bestiais.
  6. Talvez seja exagero dizer que o verão brasileiro é a causa dos dias de cão. Mas, se não há explicações certeiras para o diagnóstico, ao menos é possível recorrer a metáforas climáticas para apontar o remédio. É hora de esfriar os ânimos. De andar pela sombra.
  7. Ou, para quem preferir, é tempo de procurar alguma luz na escuridão, como a das estrelas na noite escura. E de lembrar que os homens e suas paixões vão passar, mas que elas continuarão lá no alto – milênio após milênio.
(Disponível em http:// www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id.Acesso em 24/04/2014)

01. QUESTÃO

A expressão “dias de cão” só não se refere:
a) a dias tipicamente escaldantes atualmente. B
b) à série de fatos vinculados à corrosão social e citados no texto.
c) à época de temperaturas inclementes. 
d) à influência maligna da constelação de Cão Maior.
e) ao verão de 2013-2014.

02. QUESTÃO

Assinale o trecho em que o autor dá a entender que as expressões “calor do cão e dias de cão” não surgiram atualmente:
a) “Ás noites abafadas e mal-dormidas seguem manhãs secas e tórridas”. 
b) “Não é coincidência que as duas expressões se encontram nesta época de temperaturas inclementes”. 
c) “Elas foram forjadas há mais de dois milênios, sob o sol mediterrâneo”.
d) “Talvez seja exagero dizer que o verão brasileiro é a causa dos dias de cão.” 
e) “Ou, para quem preferir, é tempo de procurar alguma luz na escuridão, como a das estrelas na noite escura”.



01. QUESTÃO: A

B) Fatos vinculados à corrosão social são mencionados no texto e logo em seguida, tem-se o trecho do texto “Os tempos que correm são dias de cão”.
C) As temperaturas referidas no texto são, de fato, atípicas, logo, inclementes.
D) Dias de cão tem a ver com a influência daquela constelação, segundo os gregos antigos; o texto faz alusão a isso no 3o parágrafo.
E) O verão de 2013-2014, segundo o texto, é marcado pelos recordes de temperatura.

02. QUESTÃO: C
A negação da atualidade das expressões está na explicação de que elas foram forjadas há mais de dois milênios


JUSTIFICATIVAS DAS ALTERNATIVAS QUE NÃO RESPONDEM À QUESTÃO:

O conteúdo das frases colocadas como opção de resposta nas outras alternativas não tem relação com o fato de as expressões “calor do cão e dias de cão” não terem surgido atualmente.

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