Leia o trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo.
Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de
roupa e deitou-se na cama de Rita.
— Vem pra cá... disse, um pouco rouco.
— Espera! espera! O café está quase pronto!
E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (...)
Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se
contra o seu amado, num frenesi de desejo doído.
Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de
baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da
mulata; ao sentir esmagarem-se no seu largo e peludo
colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e macios,
e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se,
fervendo e borbulhando como um metal ao fogo, e
saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos os poros do
corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as
próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra
por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno.
(01. QUESTÃO) - O enlace amoroso, seja na perspectiva de Rita, seja na
de Jerônimo,
a) é sublimado, o que lhe confere caráter grotesco na
obra.
b) é desejado com intensidade e lhes aguça os ânimos.
c) reproduz certo incômodo pelo tom de ritual que
impõe.
d) representa-lhes o pecado e a degradação como pessoa.
e) é de sensualidade suave, pela não explicitação do ato.
(02. QUESTÃO) - A atração inicial entre Rita e Jerônimo não acontece na
cena descrita. Segundo o texto, pode-se inferir que ela
se relaciona com
a) uma dose de parati.
b) a cama de Rita.
c) uma xícara de café.
d) o perfume de Rita.
e) o olhar de Rita.
(03. QUESTÃO) - É correto afirmar que em — e nas suas coxas as coxas
dela — o emprego de dela justifica-se pelo fato de
a) evitar uma ambiguidade e uma redação confusa,
caso usasse suas em seu lugar.
b) exprimir valor possessivo, o que não aconteceria
com emprego do pronome suas.
c) ser uma forma culta, ao contrário do pronome suas.
d) essa forma ser a única possível, uma vez que esse
termo é complemento do verbo.
e) pretender-se evitar o valor possessivo, o que aconteceria com o emprego de suas.
(04. QUESTÃO) - O cortiço, obra naturalista,
a) traduziu a sensualidade humana na ótica do objetivismo científico, o que se alinha à grande preocupação espiritual.
b) fez análises muito subjetivas da realidade, pouco alinhadas ao cientificismo predominante na época.
c) explorou as mazelas humanas de forma a incitar a
busca por valores éticos e morais.
d) não pôde ser considerado um romance engajado,
pois deixou de lado a análise da realidade.
e) tratou de temas de patologia social, pouco explorados nas escolas literárias que o precederam.
(01. QUESTÃO) - B
Um dos apelos do texto de Aluísio Azevedo é exatamente a explicitação do desejo sexual e dos atos amorosos, intensificados por comparações hiperbólicas:
“fervendo como um metal ao fogo”, “escandescente”,
“em brasa”, “agonia extrema”, que não escondem
também uma indisfarçável condenação, nas imagens
infernais com que mascara o gozo sexual.
(02. QUESTÃO) - C
Não por acaso, o café, bebida nacional por excelência,
associa-se a um conjunto de transformações que o
meio tropical vai impondo ao imigrante português e que
o narrador, ao gosto naturalista, documenta minuciosamente: o fado é trocado pela modinha, a guitarra pela
viola, o vinho branco pela cachaça, o bacalhau e o caldo
verde pelo vatapá e a feijoada, o trabalho pela preguiça,
a poupança pela imprevidência e, acima de tudo, a branca pela mulata.
(03. QUESTÃO) - A
O pronome possessivo suas poderia referir-se tanto às
“coxas” de Jerônimo quanto às de Rita. Para evitar a
ambiguidade, o narrador optou por usar diferentes formas pronominais: suas referindo-se às coxas de
Jerônimo e dela referindo-se às de Rita.
(04. QUESTÃO) - E
O Cortiço,
além da condenação ao capitalismo selvagem e à exploração brutal da miséria; além de premonitoriamente,
problematizar a “favelização” do Rio de Janeiro, aborda
também o homossexualismo, a prostituição e a violência.
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