A estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
[bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
[dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
Manuel Bandeira
(Estrela da vida inteira, 2009.)
O poema se desenvolve em acordo com uma característica
típica da poesia de Manuel Bandeira:
A) a reflexão sobre questões abrangentes, por vezes abstratas,
a partir de elementos pontuais, simples e cotidianos.
B) o elogio à contenção das emoções e ao regramento, o
que é adequado a uma vida disciplinada, sem lugar para
ações intempestivas.
C) a defesa de uma atitude humana libertária em face das
questões do mundo, o que tem paralelo na utilização de
métrica variada e versos livres.
D) a visão positiva a respeito dos homens, como indivíduos,
e de suas organizações sociais.
E) a crítica aos avanços da modernidade em uma visão saudosista
que se consolida na recuperação dos formatos
clássicos da poesia.
A poética de Manuel Bandeira faz abordagem de
pequenos fatos da vida cotidiana e os transpõe para o
geral. A descrição que o poeta faz de uma cidade de
interior abrange todas as pequenas povoações rurais
e ganha maior dimensão.
Letra c
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